Mapuche respira
O blog Transitoriamente vem ao longo desses últimos quatro anos sendo uma espécie de “balança” em desfavor da opinião superficial e fácil, comum na maioria dos meios. Sim, ainda há bons equilibristas nos meios de massa, mas eles são a imensa minoria.
Não espero aqui ser dono da verdade, pois algo me leva a crer que a verdade não possui donos, apesar dos carimbos e contratos das escalas do poder.
Cada vez mais guardo este espaço para mostrar trabalhos e fatos que de alguma forma surpreendem, desafiam o comum, propõem o novo.
Queres uma agenda? Queres uma tragédia narrada? Quem sabe sub-celebridades em poses provocantes? Não, não encontrarás neste espaço.
MAPUCHE
Conheci o trabalho de Isaac Varzim através do duo Superpose, que ele formou com sua esposa Paula Felitto em meados de 2008.
No meio de tantos “pastiches eletrônicos ou do gênero”, o Superpose de alguma forma ganhou a minha apreciação, através de sonoridades particulares, aspectos “canção” e uma simplicidade de quem sabe balancear o ímpeto de apertar botões em demasia.
Interessa-me sobretudo a música em si. A maneira que ela é feita já faz parte de outro espectro.
Hoje fala-se muito em celebridades, fama instântanea, mas o que eu acredito mesmo é na linha, na trajetória, na história. Atento-me muito mais ao caminho seguido do que propriamente a um trabalho pontual. Gosto de comparar, analisar as mudanças e aquilo que aparentemente não mudou. Anima-me descobrir onde está a pessoalidade do artista, aquela que pode transitar entre os trabalhos, entre as canções, entre os temas.
Superpose me levou a Mapuche.
Vocês já notaram o quão comum é, nas análises e críticas, separar o que se “gosta” e o que “não”, quase que numa escala 50/50?
Parece uma obrigação enumerar o que se gosta e o que não, para então se ter uma crítica “equilibrada”.
Aqui eu pretendo me ater àquilo que me agradou. Nada é tão original que não contenha muito do que já há. Nada é tão igual que não contenha algo que nada parece.
“Sanctity”, o disco, soou-me novo, transitivo e sensível. Se em Superpose tinhamos uma refeição mais “rápida”, em Mapuche a mesa parece estar mais bem elaborada, com atenção às louças, aos copos e aos talheres.
Tem gente que prefere a velocidade do balcão, outras sentem-se melhor sentando-se a mesa, esperando o primeiro, o segundo, o terceiro prato.
O disco traz uma ótima safra de “canções eletro-texturizadas”, com sonoridades tão musicais quanto visuais. Eu diria respiratórias.
Em pleno 2011, o que seria uma tendência? Existindo a tendência, quanto tempo ela há de durar?
Mapuche deu sua contribuição para a anti-tendência. Não no sentido de contra, mas no de expansão diante do efêmero-presente.
Bom som e um abraço,
Antonio Rossa
—
BAIXE O DISCO AQUI
24/03/2011 at 14:30
Ah Antonio, ótimo texto!
Mapuche é uma refeição elaborada, com atenção às taças e aos talheres. É bem por aí.
Bia
.
http://dondeestascorazon.wordpress.com/
24/03/2011 at 14:38
Olá Bia.
Muito obrigado pelas palavras.
É tão fácil falar e nada dizer, não?
Abs,
Antonio