Entrevista em Trânsito – Lenzi Brothers e o novo disco

A banda catarinense Lenzi Brothers está prestes a lançar seu quarto trabalho, intitulado “Fora de Estoque”.

Aproveitei o momento e fiz uma entrevista com o guitarrista e vocalista Marzio Lenzi à respeito desse lançamento, e ainda sobre como a banda analisa o conceito “disco”, modernidades sonoras, rádios, composição e outros assuntos. Tudo com uma acidez e uma auto-ironia quase excassa no meio atual.

Enquanto o disco não chega você pode ouvir o myspace do trio (clique aqui).

Bom som e um abraço, Antonio Rossa

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1 – Pode até parecer clichê, mas “Fora de Estoque” parece apontar para novas sonoridades sem perder a característica daquilo que se entende como Lenzi Brothers. O que esse disco significa para vocês em termos de inovação e dentro da própria história da banda?

Bem, rola uma coisa curiosa quando especificamente eu vou compor. Sempre detestei música pop e todas as bandas que se encaixam no rótulo Pop Rock, mas algumas vezes quando pego o violão pra compor, sai algo num estilo, digamos, mais “comercial”.  Durante um tempo eu lutava contra isso, mas nesse último disco deixei fluir e acho que tivemos bons resultados como “Danos”, que tem uma cara pop, mas com uma pegada mais rockeira do que os pops que estão “em estoque”. De muderninho (sic) tem umas palhetadas pra baixo a mais, de resto é o rock Lenzi Brothers.

2 – Nos anos 70, por exemplo, um disco era uma espécie de “relatório de um tempo” que uma banda apresentava ao público, até mesmo pela dificuldade em se lançar discos, em se comunicar com o público. Hoje, essa ideia ainda se mantém, ou qual seria a nova função de um disco?

Acho que quando você encontra a árvore da inspiração, ela não te dá apenas 2 ou 3 frutos. Você tem de aproveitar e encher o cesto. Um disco é uma obra! Que bosta seria se Da Vinci pintasse só os peitos e o braço esquerdo da Mona Lisa… Hoje em dia é inegável que um albúm ainda chama muito mais a atenção do que o neguinho for lançando vários singles de mês em mês. Lá pelo quarto single lançado o cara pensa: “ putz, de novo essa banda me pentelhando com o seu”:  “SUPER HIPER INÉDITO NOVO SINGLE!” – “OUÇA AGORA” – ‘VOTE EM NÓS”, caralho, são os spamtelhos do rock… Sei que hoje em dia as bandas precisam se articular, usar os preciosos recursos de divulgação na internet, mas na boa, eu não agüento mais as bandas  spamtelhas e nem sou mais a fim de spamtelhar os outros. Bandas de verdade ainda lançam álbuns.

3 – Como funciona o lance das composições dentro do trio?  Como foi o processo de gravação do disco?

A maioria das composições é minha. Eu chego com a música e os arranjos são feitos entre todos. Neste disco fizemos a pré – produção e gravamos algumas guitarras e vocais no estúdio Power of Soul, em Lages. Já o disco em si, foi gravado no Giant Steps, em Balneário Camboriú. Gravamos ao vivo batera, baixo e guitarra. Vocais e outras guitarras foram feitas separadamente e também alguns teclados, que é o Matheus (batera) quem faz. Por sermos irmãos, um não economiza críticas com o outro e acho o resultado disso, fora os palavrões, bom.

4 – As rádios hoje são dominadas por 80-90% de lixo sonoro. O Lenzi Brothers cada vez mais se firma como uma banda que continua a acreditar no próprio estilo sem parecer se curvar para os modismos.  Quais os prós e os contras dessa postura?

Rádio com 80% de lixo sonoro? Me passa a sintonia que quero escutar esses 20%!..hehehe. Bom,  de contras: continuamos pobres. Prós: continuamos de pau duro.

5 – “Quero me perder por aí” me pareceu uma das mais inspiradas do disco. A letra é uma espécie de ode ao espírito de liberdade, que hoje parece enfurnada em “shopping-centers-de-ilusão”. A música ainda pode ser um estopim para novas revoluções ou virou pano de fundo para lojas de departamentos?

Essa é do Samuel. Sim, estamos aí pra revolucionar, mas se uma Loja de Departamentos tiver interesse em usar nossa música como pano de fundo, o telefone de nosso agente é: (47) 99114760 (horário comercial) www.lenzibrothers.com.br

6 – Aliás, “Fora de Estoque” quer levar sua música para além dos meios tradicionais de comércio, divulgação e percepção? O mundo estaria afundado em vaidades não auto-irônicas? Qual é a do título?

Não estamos nas “prateleiras” e isso pode ser bom. O lance é mostrar que não estar na moda, é melhor do que estar…(óbvio!) Às vezes o  novo acaba caindo no buraco da mesmice, pior do que quando se usa panela velha que faz comida boa. Hoje em dia, quando somos resenhados, mesmo que seja elogiosa a resenha, a gente não curte os adjetivos: ‘Rock tradicional”, “Rock Clássico”, ‘Rock de verdade”, mas também não vamos entrar na tendência colorida. Somos 2010 modelo 2011 e fazendo rock.

7 – Nem pior que você entra com uma riff a lá “Communication Breakdown” e descamba para uma sonoridade “Purpleziana”. Seria essa uma homenagem proposital, o ineditismo puro é uma ilusão ou a canção simplesmente levou para isso?

Em primeiro lugar eu “chupei” o riff do Jimmy Page, pois tinha certeza de que ele nunca iria nos descobrir nesse fim de mundo na América do sul, mesmo sabendo que ele tem uma casa na Bahia. Sobre o lance da homenagem, acho que toda vez que a gente compõe algo com as influências dos nossos ídolos, têm uma homenagem embutida. A sonoridade “Purpleziana” no final é uma questão de honra do disco. Não dá pra ser bonzinho o tempo todo. E por outro lado, temos de aproveitar pra mostrar, nem que seja na “finaleira” do disco, aquilo que fazemos bem e que as bandinhas muderninhas (sic) de hoje não fazem/sabem: Improviso no rock.

2 Responses to “Entrevista em Trânsito – Lenzi Brothers e o novo disco”

  1. adorei a entrevista, antonio.

    ela me reveleu um marzio articulado, ácido, irônico, atento, o que acabou por me permitir nova leitura de sua banda.

    parabéns aos dois, entrevista é pra isso, revelar e (re)construir um sujeito.

    mafra

  2. O tio Marzio sempre foi o cara!

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