Não dá para sentir a dor do mundo todo. Até onde a minha vida vai, até onde o sentido dela alcança, posso dizer que 2009 foi um ano bom, generoso e desafiador. Creio que consegui mudar um pouco esse “meu mundo todo”, aquela gota que também pode fazer a diferença.
Perdi pessoas importantes, sofri por vezes, estranhei e ora compreendi, mas também ganhei a presença de outras pessoas importantes. Importantes para mim, para a forma como eu vejo o mundo e as coisas. Esse universo dentro de cada um de nós.
Aprendi, experimentei, joguei algumas coisas fora e abri espaço para que novas viessem. O saldo me parece positivo, pelo menos essa é a sensação aqui, nesse momento.`
Pessoalmente, às vezes penso que nós não temos controle algum sobre as coisas ou quem sabe nós tenhamos controle até o ponto que antecede o nosso caminho real. Quem sabe o controle o qual nós julgamos real exista apenas “fora do nosso caminho”, isto é, quando adentramos o nosso real caminho, quem sabe ali então possa não existir mais controle, apena um fluxo integral, inteiramente possível, fluido, em um nível onde a pura compreensão seja a indefinição da escolha.
O surfista pode “decidir” não entrar no mar, mas ele entrando para realizar a sua meta, ou seja, o seu único caminho de todos os caminhos para chegar lá, no meio de uma onda ele não pode exigir, por sua decisão, que a onda pare. Caso o golpe do mar o leve “ao chão”, e isso não seria um golpe, mas apenas o caminho do mar, ir contrário a onda faria algum sentido? Ou talvez se deixar, moldar um novo tempo, silenciar? Eu não preciso responder, pois acredito que nós sabemos a resposta, juntos.
A vida me parece assim, e isso aumenta sobremaneira a nossa responsabilidade sobre tudo, pois se o controle real “existe ou inexiste” nesse caminho real das nossas possibilidades, todo caminho “alternativo” até ele dependeria de nós, nós precisamos encontrar esse caminho real, e isso então seria a nossa responsabilidade. Lá estando, NO CONTROL.
E a crise? Bom, não dá para ignorar o mundo miserável daqueles que passam fome, da mesma maneira que não é possível ignorar a miséria daqueles que sofrem pelo excesso.
Então a miséria humana me parece estar nesses extremos, até mesmo onde o ouro é tempero.
As pessoas, a humanidade, de forma integrada, precisa encontrar saídas para a nossa própria existência. Ignorar o resto do mundo e pensar só em si soa tão fora de moda, tão tacanho, passível de náuseas, tamanha indigestão do ato.
Imagine a Terra vista da Lua. Imagine que você está lá, agora. Qual seria o significado de tantas coisas que você julga importante na sua vida? Todas as certezas. Certezas? Essa transvaloração pode fazer você pensar diferente, agir diferente. O mundo precisa de gente simples e prática, que transforme o rancor em energia criativa, a inveja em soluções viáveis, o lixo em combustível e arte, as pessoas em agentes globais, responsáveis por si e pelo todo.
Os bebês chorões de 20-30-40-50-60-70-80-90 anos precisam criar a coragem necessária para fazer o melhor dos mundos vir a tona. E as soluções precisam alcançar a todos, pois não é mais possível aceitar soluções para poucos. O mundo é um lugar só. Mesmo que as fronteiras existam, e elas existem, o homem é igual (mesmo em suas diferenças) em qualquer lugar, pelo menos eu não conheço ninguém que voe com os braços, até o momento não. A mente é uma grande saida.
Estamos todos no mesmo barco, alguns na sala VIP, outros no porão, mas se o barco afundar todos irão juntos, inevitavelmente. Mesmo aqueles que saltarem em barcos inflados, se perderão na solidão dos oceanos vazios.
Não há escolha. É preciso fazer dessa nossa inteligência algo que suplante a simples modernidade e a contemporaneidade das coisas. Precisamos do pós-pós-da-inteligência, de uma nova visão.
Nós vivemos numa possibilidade estética e de organização, mas essa é apenas uma delas, não é mesmo? Existem outras tantas. Qual mundo a nossa geração construirá? A cópia quase perfeita do mundo de ontem? Ou a evolução de todas as coisas?
Não seria hora de nos questionarmos sobre a estética e a funcionalidade de certas coisas? Dos eletrodomésticos aos automóveis? Automóveis barulhentos, quentes e poluidores, soltado fumaça. Por que nós aceitamos isso como convencional e normal? Não é bizarro?
A questão não é você não consumir, a chave mora naquilo que você consome, na maneira como você faz isso, e no valor que você dá para certas coisas. Um carro de luxo tem muito valor, uma delicadeza muitas vezes passa despercebida. E isso parece normal.
A inteligência não deveria ser melhor reconhecida? A cegueira das pessoas tem as levado para caminhos tristes e solitários, mesmo com luzes e neon em volta, e uma aparência bela. Onde está o chão? Por que será que a venda de antidepressivos cresce a todo instante? Não vejo isso como normal, ou então isso seria um desajuste genético turbinado por um ambiente hostil, levando-nos a crer que essa escuridão seria o sub-produto natural da própria evolução. Que merda!
Não consigo ver dessa maneira, pois penso que só não há saída quando você tenta encaixar, ao léu, uma esfera num quadrado. A nossa própria sociedade muitas vezes parece não entender que existem personalidades esféricas, quadradas, retângulares e de outras infinitas formas. Sem encaixe não é possível viver em paz, forçar esse encaixe também não. Então as pessoas precisam criar as fechaduras corretas, pois as chaves nós já temos.
Que em 2010 a gente passe a olhar as coisas com uma destreza mais afiada, e assim possamos construir um mundo novo. Realmente novo.
Um Ano Novo, Novo.
Antonio Rossa